Na abertura do debate, Campilongo fez uma explanação histórica sobre o surgimento dos cartórios de Protesto e dos títulos de crédito, destacando a relação do Direito com a evolução da economia. De acordo com ele, apesar de no Renascimento ter se atrelado a evolução econômica europeia ao Direito e aos títulos de créditos, os desafios econômicos atuais são muito maiores e englobam diversos outros fatores.
Para exemplificar esses novos desafios, Campilongo destacou a relação da economia com diversos outros agentes, como o grau de escolarização de uma sociedade. Segundo ele, no comparativo entre 1980 e 2015, o Brasil quase triplicou o período de escolarização da população. Mas, os números positivos não se refletiram da mesma maneira sobre a produtividade econômica.
“De três anos e meio, saltamos para quase nove anos na média de escolarização do trabalhador. Não vou entrar no mérito da qualidade da educação, mas nossa situação melhorou muito. E olhando para esse cenário, se poderia imaginar que se a escolarização melhorou inevitavelmente a produtividade econômica melhorou também”, provocou. “Mas não foi o que aconteceu. Nós não tivemos um crescimento da produtividade e da competividade da economia brasileira proporcional a este investimento em educação. Então, essa relação entre atividade econômica e educação não é tão evidente como imaginamos”, afirmou Campilongo.
“Nós vivemos em um período no qual não se basta ter apenas uma única mudança para que se determine inexoravelmente alterações do ponto de vista econômico. E eu não teria muita dúvida em dizer que o Direito pode facilitar a atividade econômica, mas também em uma intensidade muito maior pode criar obstáculos e dificuldades para esta atividade”, completou.
Com relação ao papel do Protesto na recuperação de crédito, Campilongo afirmou que os números mostram a eficiência extraordinária deste serviço tanto para recuperação de créditos atrelados à dívida pública quanto na recuperação de créditos de origem privada. “A atividade notarial tem na fé pública e então no principio da publicidade, um elemento estruturante, fundamental. E é isso que o diferencia de um escritório de agência particular, de um agente financeiro. De um lado, eu tenho a publicidade; e do outro lado, como se trata de uma atividade regulada, uma atividade fiscalizada, sob a supervisão do Poder Judiciário, também tenho a segurança jurídica decorrente da atividade notarial, que é regulamentada e fiscalizada, não pode favorecer nenhum lado”, afirmou.
Recuperação de Crédito Público
Na sequência, o professor Maurício Zockun destacou que o processo de saída do Estado da atividade econômica para entrada de particulares – por meio de concessões e parcerias público-privadas – tem transformado o processo de recuperação de crédito público, com o enfraquecimento da CND – Certidão Negativa de Débito.
“Com a crescente saída do Estado da atividade econômica, os instrumentos que o Estado antes detinha com grande capacidade coercitiva para cobrança de valores vai perdendo sua força. A CND, que atestava a pontualidade ou a impontualidade do particular, era utilizada indiretamente como instrumento de cobrança de valores. Com o ente público deixando de ser protagonista, a CND vai perdendo força. E agora, somado com a Lei 13.303, que regularizou as empresas estatais, trouxe uma faceta privada às contratações públicas sem a necessidade de apresentação da CND. Desta forma, o Estado precisou buscar outros instrumentos de cobrança extrajudicial para recuperação desses créditos”, explicou.
A busca do Estado por meios extrajudiciais para recuperação de crédito é fruto, de acordo com Zockun, de estudos do próprio Governo que apontavam que do total das dívidas públicas cobradas judicialmente, apenas pouco mais de 1% acabava sendo recuperado.
“Esse número é muito baixo. E mais, tem um custo. Estudo realizado em 2005 pela Secretaria da Reforma do Poder Judiciário mostrou que é antieconômico a propositura de cobranças extrajudiciais abaixo de R$ 50 mil. Isso em 2005, hoje, esse valor deve chegar a R$ 100 mil. Ou seja, a cobrança judicial possui baixo retorno e só se justifica acima de um determinado patamar”, explicou.
Já com relação à recuperação de crédito público por meio do Protesto, Zockun destacou matéria do Jornal Valor Econômico sobre o aumento da arrecadação de órgãos públicos na recuperação de crédito por meio do Protesto. A Prefeitura Municipal de São Paulo, por exemplo, aumentou o volume de protestos deste ano. Segundo a Procuradoria-Geral do Munícipio, entre janeiro e agosto foram enviados aos cartórios de Protestos cerca de 388 mil títulos.
“O Protesto acabou se revelando uma forma de cobrança extrajudicial muito eficiente. Um bom exemplo de sua eficácia é com relação à publicidade. A dívida pública levada a protesto, não reflete apenas nas contratações públicas como na CND, mas também reverbera na iniciativa privada, tornando muito mais eficiente o recebimento de dívidas públicas pelo Estado. Tanto isso é verdade que os números demonstram isso. Apurou-se, apenas no Estado de São Paulo, que 25% valores cobrados e pagos de IPVA são pagos pelos contribuintes após o protesto”, explicou ele.
Em sua explanação, Zockun ainda destacou a importância de uma mudança na forma de pagamento dos emolumentos para realização do protesto. “Acredito que emolumentos deveriam ser pagos após a recuperação de crédito, assim como acontece com a cobrança de tributos. Antes eu produzo o fato para depois cobrar. O pagamento dos emolumentos é inverso disso. Acredito que a postecipação dos emolumentos aumentaria a procura pelo protesto, não só do Estado, mas dos particulares”, disse.
“O mercado se ajusta às necessidades. Os empresários que buscam a nossa substituição no mercado, vão dar um jeito de não divulgar o protesto do Poder Público. E na hora que não houver a divulgação desses dados, podemos perder força. Por isso, temos que ter a nossa base de dados para divulgar o protesto. Nós temos que caminhar com a postecipação e com o banco de dados juntos. Felizmente nós temos vários Estados que já entraram no banco de dados dos protestos. E tivemos uma excelente notícia hoje, de que a Paraíba autorizou a entrada dos cartórios do Estado no banco de dados nacional de protesto. Mas essa base ainda precisa se tornar nacional”, finalizou o presidente da Anoreg/BR, Claudio Marçal, ao encerrar a mesa de debates.
Fonte: Assessoria de Imprensa Anoreg/BR